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Banco Central quer ampliar atuação de cooperativas como agentes de desenvolvimento e fazer com que participação no setor salte para 20% do mercado brasileiro de crédito. Na França, esse percentual bate nos 60%
Banco Central anunciou que pretende revisar e atualizar a Lei Complementar 130 (LC 130) que regulamenta as cooperativas de crédito em todo o País. O tema é vetor de desenvolvimento regional, principalmente porque em 564 (10%) dos 5.570 municípios brasileiros elas são as únicas instituições financeiras com presença física. Atendem 1,4 milhão de pessoas que, de outra maneira, não teriam acesso ao sistema financeiro. De acordo com dados do BC, o cooperativismo de crédito já é líder de mercado, tanto para pessoa física quanto jurídica, em cinco estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso e Rondônia.
As instituições reguladas e fiscalizadas pelo BC reúnem cerca de 11,5 milhões de cooperados e possuem ativos na ordem de R$ 220 bilhões. Juntas somam mais de 6,6 mil postos de atendimento e estão presentes em todos os estados. “Se considerado o conjunto de todas as instituições desse tipo, o Sistema Nacional de Crédito Cooperativo (SNCC) pode ser chamado de sexto maior banco do País”, diz Roy Martelanc, coordenador do MBA Banking da Fundação Instituto de Administração (FIA). O potencial de mudança da transformação mexe com número que demonstram a força do segmento.
Manfred Dasenbrock, presidente da SicrediPar e coordenador do Conselho Especializado de Crédito (Ceco) da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) afirma que um dos principais fatores que permitem que a cooperativa de crédito alavanque o desenvolvimento econômico local é a possibilidade de oferecer crédito com taxas de juros mais baixas, adequadas à realidade dos seus associados. “As taxas de juros cobradas pelas cooperativas de crédito são menores. Em 2019, por exemplo, a diferença das taxas praticadas para microempresas foi de 20 pontos percentuais se comparada aos bancos tradicionais.”
O reflexo disso é imediato. O Sicredi, instituição pioneira no cooperativismo de crédito, com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), mostrou em um levantamento os dados econômicos de todas as cidades brasileiras com e sem cooperativas de crédito entre 1994 e 2017, cruzou informações do Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE) e chegou à conclusão que o cooperativismo incrementa o Produto Interno Bruto (PIB) per capita dos municípios em 5,6%, cria 6,2% mais vagas de trabalho formal, aumenta o número de estabelecimentos comerciais em 15,7% e um novo emprego é criado sempre que o setor empresta, em média, R$ 36 mil. Os cálculos do Sicredi, com base no estudo da Fipe, mostram um impacto agregado nessas cidades de mais de R$ 48 bilhões em um ano. As cooperativas de crédito foram responsáveis pela criação de 79 mil novas empresas e pela geração de 278 mil empregos.
Para Dasenbrock, a participação dos associados nas decisões de uma cooperativa de crédito é o grande diferencial do modelo de negócio. “O associado é, de fato, o dono do negócio e, por isso, precisa estar presente nas discussões a respeito dos rumos da cooperativa”, diz. “O relacionamento propiciado pelas cooperativas (mais próximo dos associados) contribui para a eficiência em reconhecer a capacidade de pagamento no uso do crédito e, com isso, apoiar o desenvolvimento da região.”
GLOBAL O cooperativismo como propulsor de crédito é um modelo de negócio presente em 118 países, segundo relatório do Conselho Mundial de Cooperativas de Crédito (Woccu 2018), reunindo mais de 274 milhões de associados e ultrapassando a marca dos US$ 2,19 trilhões em ativos. No Brasil, de acordo com o BC, o cooperativismo de crédito está presente em quase metade (47%) das cidades e representa 2,7% dos ativos totais do Sistema Financeiro Nacional (SFN), o que coloca o País em 16º colocado no ranking de volume de ativos administrados pelas cooperativas de crédito do mundo todo.
Em 2009, o BC (por meio das circulares 3438 e 3457), permitiu às cooperativas de crédito se tornarem titulares de contas de liquidação. “As cooperativas passaram a compensar os próprios cheques, boletos, processar TEDs e DOCs, sem a necessidade de recorrer a bancos liquidantes. Hoje, cerca de 50 cooperativas de crédito já efetuam suas liquidações, diretamente ou através de suas centrais”, afirma o professor Roy Martelanc, da FIA. O Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob) apresentou, em 2019, variação positiva de 18% nas operações de crédito em relação ao ano anterior: foram R$ 61,2 bilhões ante a R$ 51,9 bilhões em 2018. Somente com financiamentos, o Sicoob movimentou R$ 7 bilhões em 2019, contra 4,6 bilhões no ano anterior, alta de 52%. “Nossa missão é proporcionar a justiça financeira com responsabilidade socioeconômica”, diz Marco Aurélio Almada, presidente do Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob, integrante do Sicoob). “Incentivamos o uso adequado dos produtos oferecidos aos cooperados, praticamos juros competitivos, promovemos o desenvolvimento econômico das comunidades porque acreditamos que o Sistema Financeiro Nacional precisa ser mais justo com os brasileiros.”
Com um cenário promissor e o apoio do Banco Central do Brasil tanto Sicredi quanto Sicoob estão otimistas para 2020. “Esperamos um crescimento de 8 a 10% no volume de negócios”, finaliza Marco Aurélio Almada do Sicoob. A proposta do BC, discutida com as lideranças do segmento, pretende ampliar a presença de cooperativas no mercado brasileiro de crédito e fazer a participação saltar de 8% (em 2018) para 20% (em 2022). Na Holanda esse percentual chega a 39% e na França bate nos 60%. A proposta de modificação da LC 130 será encaminhada na Câmara e terá relatoria de Arnaldo Jardim (Cidadania-SP).
Por Neila Carvalho - ISTOÉ DINHEIRO