Cooperativas de crédito crescem mais do que o sistema financeiro - Nacional
null Cooperativas de crédito crescem mais do que o sistema financeiro
As cooperativas de crédito vêm crescendo acima da média do mercado nos últimos anos. Elas ganham espaço ao marcar presença nos rincões do país, com atendimento pessoal, e ao oferecer juros e tarifas mais baixos do que os cobrados pelos bancos convencionais.
Ano passado, a carteira de crédito das cooperativas saltou 22,4%, ante avanço de 14% no total do sistema financeiro, segundo o Banco Central (BC).
Tudo indica que o crescimento continuará nos próximos anos, dizem especialistas e executivos. O BC, que regula o setor, vem incentivando esse crescimento, em sua agenda de inclusão financeira, que passa também pelos bancos digitais.
Segundo Luiz Lesse, vice-presidente da Confederação Brasileira das Cooperativas de Crédito (Confebras), as condições para o crescimento atual foram dadas na década de 1990.
Na época, foi feita uma reorganização do sistema de cooperativas de crédito, sob supervisão do BC, que assumiu a função de regulador também desse segmento. Foi então que as cooperativas puderam se organizar em confederações, com abrangência nacional e marcas que passaram a ser conhecidas.
Após ajustes recentes na regulação, as cooperativas deixaram de ser apenas “de crédito” e passaram a oferecer serviços completos, como abertura de conta corrente, emissão de cartões, investimentos, além dos empréstimos.
Cooperados, não clientes
A diferença é que as cooperativas são entidades sem fins lucrativos. Em vez de clientes, elas têm cooperados, como são chamados os associados, que, ao mesmo tempo, são usuários e “donos” das cooperativas. Para usar os serviços, qualquer pessoa pode se associar, fazendo um cadastro. Ano passado, 13,2 milhões de pessoas eram cooperados dessas instituições, 52% mais do que em 2018.
Sem fins lucrativos, as cooperativas financeiras podem cobrar juros e tarifas menores. Em tempos de juros altos — a taxa básica Selic está hoje em 13,75% ao ano —, esse custo menor atrai tanto pessoas físicas quanto empresas.
“Elas conseguem fazer mais barato. O custo faz muita diferença para este momento que estamos vivendo. Por isso, o cooperativismo de crédito passou a ser grande opção para pequenas e microempresas”, diz Valdir Oliveira, gerente de Capitalização e Serviços Financeiros do Sebrae.
Segundo o BC, 2,4 milhões de empresas e microempreendedores individuais (MEIs) estavam associados a cooperativas de crédito ano passado, 85% mais do que em 2018.
Um levantamento do Sebrae, com dados do Sistema Nacional de Crédito Cooperativo (SNCC), mostra que 52% do total de crédito contratado pelas cooperativas para pessoas jurídicas no primeiro trimestre foram para pequenas e microempresas.
Além do custo menor, as cooperativas oferecem um “relacionamento diferenciado” com seus usuários, baseado no “conhecimento da realidade e da necessidade” deles, diz Oliveira.
De acordo com Ênio Meinen, diretor de Coordenação Sistêmica e Relações Institucionais do Sicoob, boa parte desse conhecimento se deve ao relacionamento pessoal, possível apenas com a presença física nas cidades. As cooperativas estão próximas dos empreendedores, conhecem as particularidades da economia local.
“Se você não tem uma agência, está muito distante e atende só remotamente, você não sabe o que está acontecendo naquela comunidade”, diz Meinen.
Expansão geográfica
Parte do crescimento das cooperativas tem a ver com sua expansão geográfica. Ano passado, elas tinham 8,3 mil postos de atendimento em todo o país. É um número bem menor que as 17,4 mil agências bancárias Brasil afora. Porém, enquanto os bancos fecham suas agências, as cooperativas abrem mais unidades.
Há cinco anos, eram menos de 6 mil postos de atendimento. Com esse avanço, cresce a presença delas nas cidades brasileiras: há pelo menos um ponto de cooperativa de crédito em 55,3% dos municípios. Em 2018, a proporção estava em 47,3%.
Um estudo de Juliano Assunção, professor do Departamento de Economia da PUC-Rio, calcula que agências de bancos convencionais só são viáveis economicamente em municípios com mais de 8 mil habitantes. Já um ponto de atendimento do Sicredi — que encomendou o estudo e que, assim como a Sicoob, é uma das confederações de cooperativas com abrangência nacional — é viável em cidades com 2,3 mil habitantes.
“Em 2022, entramos fisicamente, com agência, no último estado em que ainda não tínhamos entrado, que foi Roraima. Hoje, estamos em todos os estados e no Distrito Federal”, diz Alexandre Englert Barbosa, diretor executivo de Administração do Sicredi.
O Sicoob também está presente em todos os estados e no Distrito Federal e é a instituição financeira com o maior número de agências no País – mais de 4 mil em mais de 2 mil municípios.
Apesar da expansão geográfica das cooperativas, a desigualdade entre as regiões é enorme. Na Região Sul, há pontos de atendimento de cooperativas financeiras em 95,9% dos municípios. No Nordeste, o número não chega a 14%.
Segundo especialistas, a forte presença no Sul se deve à tradição do cooperativismo por lá, e a barreira para o crescimento no Nordeste é cultural: falta às pessoas conhecerem melhor as cooperativas como opção de serviços financeiros.
Fonte: O Globo – 31/7/2023 (com acréscimo do Sicoob Central SC/RS). Foto: Marcello Casal Jr. - Agência Brasil.