null Meu sonho era maior que a minha vergonha

30/11/2022 16:23

Quando Angelica Hansen percebeu que era da parte comercial que gostava, mesmo ouvindo que não tinha perfil para isso, ela deixou a timidez de lado e buscou aprender com quem sabia


“Viver é correr atrás da realização de sonhos”, é isso que diz Angelica Hansen, gerente de negócios da Agência Sicoob MaxiCrédito de Nova Petrópolis (RS). Entre os tantos desafios que enfrentou em sua trajetória, um deles pode ser simples para muitos: fazer autoescola. Enquanto relembra, ela resgata momentos importantes de sua vida que a fizeram ser a profissional que é hoje. 

Natural de Dois Irmãos (RS), Angelica conta que sempre foi arteira. Apesar de envergonhada, quando ganhava confiança não parava mais. “As professoras comentavam que não sabiam mais onde me colocar para sentar na sala porque eu conversava com todo mundo”. 

Desde os 16 anos trabalha no ramo cooperativista. Iniciou como assistente de atendimento, lidando diretamente com o público, e depois foi para o administrativo. Esse primeiro contato com pessoas teve seus momentos difíceis. Por ser uma pessoa com deficiência, ela ouviu comentários maldosos e alguns até mesmo a descredibilizando.

Já com algum tempo na antiga cooperativa, quando foi transferida para o administrativo, sem contato direto com os associados, percebeu que não era aquilo que queria. “Chamei minha gerente e disse que queria ir para o comercial, que gostava de pessoas, do negócio. Ela disse que eu não tinha perfil, mas cada um sabe o sonho que tem e como chegar até lá. Peguei meu computador e fui aprender. Meu sonho era maior que minha vergonha”, comenta.  

“Cada um sabe o sonho que tem e como chegar até lá”
Assim ela fez e passou a ter novas oportunidades, mostrando que era capaz. Sua chegada no Sicoob MaxiCrédito, há mais de um ano, foi buscando justamente novos caminhos e crescimento profissional. Angelica integra a equipe da Agência Nova Petrópolis, cidade conhecida por ser a capital nacional do cooperativismo – um desafio e tanto. 

Mas de desafios ela entende. Um dos mais difíceis que enfrentou pode ser considerado uma tarefa simples para muitos: fazer autoescola. “Minha maior conquista foi meu carro, mas pra isso eu tive que brigar com muitas pessoas. A carteira não era feita na minha cidade e, se eu fizesse lá, teria que fazer já no meu carro. Não tinha dinheiro para isso, então tive que fazer em uma cidade próxima e arcar com todos os custos. Tem muitas coisas que você tem que ir atrás, não adianta”, comenta.

“Minha deficiência faz parte de mim, mas por muito tempo deixei de fazer coisas por vergonha. Não fiz formatura de ensino médio, por exemplo. Como PCD, quando escuto alguma coisa, entro sim na brincadeira, mas algumas delas me ferem muito. Sempre me escondi nas redes sociais e a primeira foto que postei mostrando meu braço foi há dois anos. Pode parecer algo simples, mas para mim exigiu muita coragem”.

Angelica diz que não julga os comentários e sim a falta de informação das pessoas. Para ela, quanto mais falarmos sobre diversidade, melhor. “Quanto mais promovermos conversas como esta, mais falamos para o mundo. Temos que usar nossa voz e a cooperativa nos proporciona isso. Sinto que sou ouvida, que tenho um espaço para dialogar. Nossos colegas nos enxergam”.

“Minha deficiência não muda meu caráter e nem meu trabalho. É isso que as pessoas precisam entender. Queremos ver pessoas diferentes ocupando cargos diferentes”.