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09/06/14

Futebol e cooperativismo: o que têm em comum?


O diretor de Operações do Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob), Ênio Meinen, publicou artigo no Portal do Cooperativismo de Crédito sobre o tema do momento o futebol associando-o com o cooperativismo. Tanto no futebol quanto no cooperativismo não se vence sozinho, é preciso cooperação e espírito de equipe, afirmou. Ênio Meinen é advogado, pós-graduado em direito e em gestão estratégica de pessoas e autor de vários artigos e livros sobre cooperativismo financeiro área na qual atua há 30 anos –, entre eles O cooperativismo de crédito ontem, hoje e amanhã. Confira o artigo, na íntegra, a seguir.

Todas as classes, profissões, ideologias, cores e idades Todas as classes, profissões, ideologias, cores e idades encontram-se no estádio. (Nélson Rodrigues).

Estamos no mês em que se dá a largada para a mais importante competição esportiva do mundo, tendo o Brasil como sede. O futebol, que por si só já exerce uma grande atração, assume especial protagonismo nesses dias, sendo tema de candentes e apaixonados debates ao redor do Planeta. Tanto aqui como na Inglaterra, versado em um só idioma, será esse o assunto principal das conversas de rua, ônibus, botecos e até mesmo de reuniões de executivos não convocadas para esse fim!

E por falar em Inglaterra, é precisamente lá que começam as coincidências entre o esporte das multidões e o cooperativismo. Foram os ingleses, com efeito, que, em 1844, deram origem ao movimento cooperativo tal como o conhecemos hoje, e também é deles o pioneirismo do futebol moderno, porquanto, em 1863, lá fundaram a primeira associação de clubes (Football Association FA, atual versão da Federação Inglesa), sob a qual criaram as primeiras regras do futebol atual.

Cooperativas e clubes de futebol são espécies do mesmo gênero societário, organizando-se sob a égide de entidades associativas, de 1º, 2º e 3º níveis (cooperativas singulares, centrais e confederações x associações, federações e confederações de futebol). Há, até, situações em que o futebol se estrutura sob o modelo jurídico-cooperativo propriamente dito. É o caso, por exemplo, do FC Barcelona, time mais conhecido, vitorioso e admirado do mundo com 150 milhões de torcedores -, congregando cerca de 175 mil sócios/cooperados. Ao seu lado, outro clube espanhol opera sob bases genuinamente cooperativistas. Trata-se do Real Madrid, atual campeão da UEFA Champions League, principal competição interclubles depois do mundial da categoria (vide The Success of the cooperative model in football: http://www.sommetinter.coop/cms/success-cooperative-model-football)

O futebol tomou o Globo, assim como o movimento cooperativo. Hoje, aquele é o maior fenômeno social da humanidade (capaz de reunir 3,2 bilhões de pessoas para acompanhar a final da Copa de 2010, sendo praticado por 265 milhões de atletas, segundo dados da Fifa), ao passo que o cooperativismo, como expressão socioeconômica, forma a maior organização não governamental do mundo, com mais de 1 bilhão de membros (considerando o conjunto familiar dos sócios, estima-me pelo menos 3 bilhões de envolvidos com a causa). Como já dizia Vinícius de Moraes, o futebol é uma paixão mundial, um ideal de vida, simpatia e objetivo que o cooperativismo, em idêntica abrangência e extensão, também representa para os seus simpatizantes.

Por aqui, embora a sua relevância e apelo socioeconômico, o cooperativismo financeiro, para falar de uma das vertentes cooperativistas, detém parcela correspondente a apenas 2% da indústria financeira (posição dos ativos, conforme dados do Banco Central do Brasil), enquanto o nosso futebol, adorado entre os brasileiros e cultuado além de nossas fronteiras, também não representa mais que 2% do PIB doméstico (segundo a empresa Pluri Consultoria, de Curitiba PR) e tem semelhante fatia do mercado global da bola, que movimenta em torno de US$ 1 trilhão por ano (de acordo com informações do Ministério do Esporte). Nos dois casos, tomando por referência as melhores experiências internacionais em empreendedorismo futebolístico e cooperativista, o potencial de expansão é equivalentemente considerável.

A propósito, pensando em estratégias que possam mudar o quadro, a aglutinação entre cooperativas (através de incorporações e fusões) e o aprimoramento de sua governança têm-se mostrado medidas exitosas para fortalecer e acelerar o seu crescimento lá fora e aqui, soluções essas que também mereceriam ser testadas como movimentos a, no futuro, tornarem os nossos clubes mais sólidos e virtuosos (intra e extra campo).

O sucesso do futebol tem tudo a ver com a soma de esforços entre os atletas (cooperação/espírito de equipe). Nas cooperativas, a união representa o seu próprio DNA. Em matéria de futebol e cooperativismo, definitivamente, não se vence sozinho. A vaidade e o egoísmo (eu tudo), nos dois casos, são nocivos e costumam ser fatais! (na lição de Bernardinho, vitorioso e expoente do coletivismo esportivo, a vaidade é inimiga do espírito de equipe).

Em ambas as iniciativas, o investimento em pratas da casacostuma dar os melhores resultados, pois quem surge e cresce dentro da cooperativa e do clube assimila a sua cultura, desenvolve o espírito de pertencimento e verdadeiramente veste a camisa. Assim como a ocupação de espaço no campo de jogo é um movimento tático fundamental no futebol, a presença em localidades pouco povoadas revela uma das grandes virtudes do cooperativismo financeiro.

Tanto no ambiente cooperativo quanto no futebol, o protagonismo dos seus públicos é essencial para o alcance dos resultados. No futebol, a torcida presente aos estádios representa incentivo fundamental para as vitórias de seu clube, enquanto no cooperativismo a participação dos associados motiva a direção para o cumprimento de suas metas e assegura a sustentabilidade do movimento.

O futebol é um esporte inclusivo e igualitário, em torno do qual todos os estamentos sociais, cores e credos se encontram e confraternizam, enquanto o cooperativismo, por princípio, também não escolhe ou discrimina os seus membros, sendo frequentado por ricos e pobres, religiosos e não-religiosos, homens e mulheres, velhos e jovens, partidários e apartidários, enfim, por todos que queiram usufruir de seus benefícios. Aliás, tanto um quanto o outro, desde a sua origem, reúnem entre seus fins mais nobres o combate a toda e qualquer espécie de preconceito e exclusão sociais, incluindo o elitismo e o racismo.

Tal qual o cooperativismo, que tem entre os seus objetivos melhorar a qualidade de vida nas comunidades em que atua, o futebol carrega um apelo muito forte no campo da solidariedade, mobilizando cada vez mais pessoas em torno de projetos voltados para crianças e jovens carentes (vide, entre nós, as iniciativas do Cafu e do Raí, ex-craques da Seleção).

Enfim, futebol e cooperativismo, identidadede muitos e mais que presentes na cultura universal, são, por definição, patrimôniode multidões, simbolizando uma verdadeira copropriedade multicoletiva.

Enfim, futebol e cooperativismo, identidadede muitos e mais que presentes na cultura universal, são, por definição, patrimôniode multidões, simbolizando uma verdadeira copropriedade multicoletiva.

Agora, os cooperativistas temos de reconhecer que o futebol leva a melhor em um importante quesito: a fidelização! Enquanto no movimento cooperativo muitos associados militam (operam) também na concorrência, no futebol isso é impensável. Imaginemos alguém ser torcedor do Bahia e do Vitória ao mesmo tempo; do Flamengo e do Vasco; do Atlético e do Cruzeiro; do Palmeiras e do Corinthians; do Atlético e do Coritiba; do Figueirense e do Avaí;… do Colorado e do Grêmio…!? Sem chance! Que sirva de exemplo…

Bem, a Copa está aí (e aqui!), e, quem sabe, voltemos a formar a corrente pra frente, dando impulso ao 6º princípio universal do movimento cooperativo, unindo-nos, em intercooperação, com o futebol brasileiro, do qual somos todos sociossimpatizantes! Rumo ao hexa dentro das quatro linhas, e à conquista do troféu da igualdade, da inclusão, da dignidade e da prosperidade sociais!

La fórmula del hombre que quiere triunfar: no luchar en solitario!(homenagem à Espanha, atual campeã mundial de futebol terra do Padre Arrizmendiarreta, fundador do grupo cooperativo Mondragón e autor dessa máxima).





Fonte: Portal do Cooperativismo de Crédito.

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