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04/09/18

Cooperativismo resolve desigualdades


Rodrigues: se a economia vem dando sinais positivos de recuperação, muito deve ser creditado às cooperativas, sobretudo às agropecuárias e de crédito

Em um ano marcado por eventos que geram turbulência, como Copa do Mundo e eleições, pleno de feriados prolongáveis, e com temas substantivos preenchendo a pauta do Legislativo e do Judiciário, será necessária muita atenção por parte de todos os brasileiros no sentido de pensar no Brasil, olhar para o futuro com a convicção de que elegendo gente correta, comprometida e fundamentalmente determinada a corrigir erros de séculos é que sairemos da crise, reencontrando a economia com a política de maneira positiva. É preciso olhar com critério os candidatos a presidente, governadores, deputados e senadores porque sempre há um melhor do que o outro. Essa reflexão é compartilhada com todos os cooperativistas por Roberto Rodrigues, um dos principais divulgadores do cooperativismo brasileiro, posição que o levou, entre outras, a ser o primeiro não-europeu a presidir a Aliança Cooperativa Internacional (ACI), de 1997 a 2001, e merecer o título de embaixador da ONU para Alimentação e Agricultura da FAO para o cooperativismo mundial.

Definindo o momento atual como de extrema delicadeza política, o ex-ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (de 2003 a junho de 2006), e coordenador do Centro de Agronegócio da FGV/EESP alerta para o fato de que se a economia vem dando sinais positivos de recuperação, muito deve ser creditado às cooperativas, sobretudo às agropecuárias e de crédito".

As primeiras, por contribuírem diretamente com as grandes safras; e as de crédito devido ao fato de, por exemplo, atuarem com juros baixos. É preciso que os gestores das cooperativas estejam atentos para o papel que essas instituições vêm desempenhando na recuperação da economia e, assim, fortalecer o movimento, sempre atentos ao fato de que a cooperativa, por definição doutrinária e legal, não pode ter opção política partidária, deve ser politicamente neutra.

A doutrina equaciona o presente

A cooperativa é um instrumento da doutrina cooperativista, e, como tal, serve para corrigir o social através do econômico. Essa definição somada ao momento presente, em que o maior problema social do Brasil contemporâneo é o desemprego, permite, com facilidade, projetar crescimento significativo do cooperativismo nos próximos anos, oferecendo a inclusão para quem está fora do mercado.

Nesse contexto, prevê que três ramos serão diretamente beneficiados: o Trabalho que, por seus objetivos fundamentais, deve ter importante avanço; o Agropecuário, de longe o mais destacado ramo do cooperativismo brasileiro, e o crédito, que vem se desenvolvendo com solidez e representatividade.

No caso do Agronegócio, dois cenários desenham-se, na visão de Rodrigues. O primeiro é que com as margens cada vez mais apertadas por unidade de produto, a renda do produtor depende de escala em praticamente todos os produtos com que o Brasil trabalha. O segundo relaciona-se com os avanços tecnológicas via startups, universidades e centros de pesquisa, que geram tecnologias disruptivas capazes de produzir resultados importantes, mas que somente serão incorporadas pelo grande produtor, que tem equipe técnica para buscar as informações, traduzi-las para ações concretas e aplicá-las na atividade rural, ou seja, médios e pequenos produtores não poderão sequer ter acesso a essas informações, e isso poderá gerar um abismo entre pequenos, médios e grandes produtores.

A concentração que pode derivar dessa dificuldade de os médios e pequenos produtores incorporarem as tecnologias disruptivas é indesejável em um País que precisa do pequeno produtor para garantir a estabilidade do campo, comenta o embaixador especial da FAO.

No caso do cooperativismo de crédito, que hoje responde por 17% do crédito rural, a tendência para o coordenador da GVAgro é de crescimento dessa participação, uma vez que o crédito oficial tende a diminuir por conta de demanda de outros segmentos e de dificuldades do governo.

Para todos esses cenários que afetam diretamente o pequeno produtor rural, Rodrigues aponta a solução, ao afirmar: Não vejo outra forma de acessar os pequenos e médios produtores que não seja via cooperativa. A escala e as novas tecnologias devem privilegiar as cooperativas. A cooperativa é a única e não uma alternativa.

Comunicação: ainda o elo fraco

O conhecimento de todos esses benefícios relatados por Roberto Rodrigues, no entanto, não é de domínio público, ao contrário, a imagem do cooperativismo para a maioria da população brasileira, é no mínimo dúbia. Para ele, na realidade, há uma noção negativista decorrente da comunicação negativa, com uma certa contaminação ideológica, informa, alegando que o resultado positivo, aquele que envolve inclusão e mitigação da concentração de renda, não é conhecido.

Exemplos para isso não faltam e são resumidos pelo líder cooperativista, sem citar nomes, no seguinte quadro: Se uma cooperativa quebra por problemas financeiros, logo surgem as aves de mau agouro dizendo que o cooperativismo não presta. Se um banco quebra por fraude, por exemplo, ninguém diz que o sistema financeiro não presta, constata, cobrando a necessidade de uma comunicação do que são cooperativas e cooperativismo traduzida para o setor e para a sociedade de uma maneira geral, inclusive para a mídia, equacionando, assim, um problema histórico.

Mulher e TV: os alvos

A campanha SomosCoop, do Sistema OCB para Rodrigues –  gerará ganhos, mas o mecanismo ideal é uma campanha permanente e maciça na TV, focada na mulher, que é quem tem de perceber, sentir e compreender o sentido econômico da cooperativa, porque é a gestora da economia no lar em toda família brasileira e em muitos outros países. Temos de acessar a mulher, em todo o território nacional, falando para ela sobre a importância em entender o cooperativismo em seu dia a dia. A hora em que isso for feito, o cooperativismo deslancha no Brasil e atinge patamares próximos aos dos outros países.

A solução do ex-presidente do Sistema OCB e da ACI é a de misturar a imagem da instituição com o produto de qualidade. E alerta: Para isso, precisamos separar o joio do trigo, ou seja, é preciso eliminar as cooperativas que são falsas ou indesejáveis. Só assim o movimento cooperativista ocupará o espaço que lhe cabe no território nacional. Hoje, apenas 20% da população brasileira relaciona-se com cooperativas, o que é praticamente um terço  da média mundial.





Fonte: MundoCoop.

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