Rui Schneider da Silva é presidente do Sicoob Central SC/RS desde 1999, com mandato até 2018. É também vice-presidente da Confederação Brasileira das Cooperativas de Crédito (Confebras) e conselheiro de Administração do Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob). Economista e advogado, tem especialização em Direito Tributário e MBA em Gestão de Cooperativas de Crédito, com extensões no Canadá e na Espanha. Na entrevista, a seguir, faz uma avaliação dos 30 anos do Sicoob Central SC/RS, a ser completado em novembro deste ano e comenta os desafios para os próximos anos.
A Central vai completar 30 anos em 2015. Qual o maior desafio ao longo dessa trajetória?
Rui Acho que foi crescer sem perder a essência do cooperativismo de crédito, mantendo muito bem definida a fronteira que nos separa de outras instituições financeiras, para a felicidade dos nossos mais de meio milhão de associados, que podem contar com produtos e serviços de qualidade, atendimento personalizado e uma série de vantagens, entre elas, a de ser dono do próprio negócio. Nossas cooperativas nasceram e foram pensadas para resolver os problemas dos produtores rurais e, gradativamente, passaram a atender outros segmentos, no campo e na cidade, até a transformação, mais recente, em cooperativas de livre admissão, abertas à participação de qualquer pessoa física ou jurídica da área de atuação de cada uma delas. O resultado desse trabalho, construído com credibilidade, possibilitou a nossa expansão com agências e pontos de atendimento em 76% dos municípios catarinenses. E, mais recentemente, começamos a levar o Sicoob também para o Rio Grande do Sul, onde já temos uma cooperativa e nove pontos de atendimento.
A Central SC/RS é a maior instituição financeira privada no estado catarinense. Qual foi a receita para atingir esse volume de negócios?
Rui Santa Catarina é um estado que tem, entre suas características, uma economia diversificada e altamente competitiva, no campo e na cidade. A agricultura é, principalmente, de pequenas propriedades. Aproximadamente 90% das propriedades possuem até 50 hectares e cerca de 85% dos agricultores têm a posse da terra. Com uma colonização de várias etnias, aqui se desenvolveram de maneira sólida as raízes do cooperativismo. Santa Catarina é o único estado onde as cooperativas de crédito estão presentes em 98% dos municípios, com 810 pontos de atendimento. O Sicoob é líder no Estado, com 348 agências, atrás apenas do Banco do Brasil (491) e à frente do Bradesco (320) e da Caixa Econômica Federal (206). E continuamos trabalhando para ocupar todos os municípios, além de seguir em direção ao Rio Grande do Sul. O cooperativismo de crédito tem uma participação no Sistema Financeiro Nacional de 3,1% em empréstimos e 2,6% em depósitos. Na região Sul representa 8,8% em empréstimos e 10,1% em depósitos. Mas Santa Catarina têm um desempenho ainda melhor, com 11,9% de participação nos empréstimos e 17,4% nos depósitos. Os diferentes sistemas e as cooperativas independentes possuíam, em dezembro de 2013 R$ 7,6 bilhões em depósitos e realizaram R$ 7 bilhões de operações de crédito. O número de associados passa de 1 milhão e mais da metade utiliza o sistema Sicoob. Tudo isso é resultado de muito trabalho, educação cooperativista, observação das normas do Banco Central que garantem a segurança dos negócios e muito investimento na formação de funcionários. O Sicoob SC/RS possui, desde o ano 2000, uma Escola de Dirigentes e Executivos que já realizou mais de 500 cursos e formou mais de 40 mil dirigentes e funcionários. Muito antes do Banco Central criar o Fundo Garantidor (FCoop), o Sicoob SC/RS já tinha o seu próprio Fundo Garantidor. A Central SC/RS já realizou sete viagens de estudos aos principais países onde o cooperativismo tem mais representatividade, para conhecer a experiência local e de gestão de diferentes culturas do cooperativismo de crédito. São iniciativas assim que têm permitido ao Sicoob SC/RS um crescimento contínuo e consistente.
Hoje, são quantas cooperativas de livre admissão?
Rui Atualmente, o Sicoob SC/RS 40 cooperativas, sendo 27 de livre admissão. Todas que fizeram essa transformação, apesar dos desafios, que não foram pequenos, deram um salto muito grande e cresceram a um ritmo cada vez mais veloz.
A predominância continua rural ou atualmente é mais urbana?
Rui A prioridade, atualmente, é ocupar, principalmente, o Litoral catarinense e os grandes centros urbanos, pois no Planalto e, principalmente no Oeste o cooperativismo de crédito já tem uma tradição de longos anos e está muito bem consolidado. Em vários municípios o Sicoob é a principal instituição financeira da cidade, mesmo com a presença de grandes bancos na mesma área de atuação. O Sicoob é, ainda, o segundo maior financiador da atividade agrícola em Santa Catarina, atrás apenas do Banco do Brasil. Embora o Sicoob SC/RS tenha crescido muito nas grandes cidades e no Litoral catarinense, ainda destinou, em 2013, 65% do total de crédito aos produtores rurais cerca de R$ 785 milhões.
Como está a expansão do Sicoob para o Rio Grande do Sul?
Rui - O Sicoob possui, no momento, uma cooperativa sediada no Rio Grande do Sul, no município de Três Coroas. É a Cooperativa de Economia e Crédito Mútuo dos Empresários do Vale do Paranhana - região onde predomina a indústria e o comércio de calçados. Fundada no ano de 2000, já possui cinco agências: na cidade-sede, em Igrejinha, Novo Hamburgo, São Francisco de Paula e, no início de dezembro de 2014, inaugurou mais uma, no município de Gramado. A cooperativa possui mais de 3.700 associados um crescimento de 52% em relação a 2013. Em acordo com as outras 39 cooperativas que desejam expandir suas atividades para o vizinho estado gaúcho, em 2014 foi finalizado um planejamento para levar a vários municípios do Rio Grande do Sul, o mais breve possível, os serviços e produtos do Sicoob.
Quais as metas para 2015?
Rui Nossos objetivos são o de aprimorar, ainda mais, a profissionalização de dirigentes e funcionários; aumentar a participação do cooperativismo de crédito no Litoral catarinense; aumentar, também, a participação do Sicoob nas principais cidades do Estado; incrementar os investimentos em comunicação e marketing; conscientizar a população sobre as vantagens do cooperativismo de crédito; perpetuar o cooperativismo, fazendo um trabalho de educação financeira junto às crianças e adolescentes; estimular as fusões ou incorporações de cooperativas, aumentando a sua produtividade; buscar a aprovação da Lei Cooperativista Estadual; buscar a regulamentação do artigo 146 da Constituição Federal (Ato Cooperativo); ter acesso direto a recursos oficiais (FAT e entes públicos); reformular a Lei 5.764/71 (Lei do Cooperativismo) e aprimorar a sustentabilidade nos negócios entre outras tarefas que se apresentam como prioridades.